Por Leonardo Alves
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Publicação Cidadania Global e Sustentabilidade: Ações das Cátedras UNESCO do Brasil reúne experiências, pesquisas e práticas de diversas Cátedras UNESCO sediadas em universidades e instituições brasileiras. A obra, já disponível em versão digital de acesso aberto, apresenta um panorama abrangente de como essas Cátedras atuam em prol da educação, da cultura, da ciência e da sustentabilidade, articulando os princípios da UNESCO às realidades locais e globais.
O e-book pode ser baixado gratuitamente pelo link: acesse aqui.
Entre os capítulos, destacamos “A Cátedra UNESCO em Políticas Linguísticas para o Multilinguismo: história, impactos e perspectivas estratégicas” (p. 175-190), assinado por Gilvan Müller de Oliveira, Leonardo Alves e Eduardo Bugs Gonçalves, membros do GT Geopolíticas do Multilinguismo. O texto discute a trajetória e os objetivos da Cátedra UNESCO em Políticas Linguísticas para o Multilinguismo (UCLPM), sediada na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), além de analisar seu impacto em políticas públicas, educacionais e culturais.

O papel da Cátedra em Políticas Linguísticas para o Multilinguismo
Criada em 2018 na UFSC, a UCLPM tem como objetivo promover o estudo e a valorização do multilinguismo a partir de políticas linguísticas que reconheçam as línguas como direitos humanos fundamentais e como recursos estratégicos para o desenvolvimento sustentável.
A Cátedra funciona como uma rede internacional de pesquisa, composta por universidades, institutos e academias de 17 países em quatro continentes, ampliando o alcance e a relevância de suas ações. Entre suas frentes de atuação estão:
- Pesquisa acadêmica voltada para políticas linguísticas inclusivas;
- Capacitação em nível de pós-graduação e mobilidade acadêmica;
- Consultoria a comunidades e governos na área de diversidade linguística;
- Promoção de direitos linguísticos em sintonia com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.
O capítulo destaca que, em um mundo onde mais de 2.400 línguas estão ameaçadas de extinção – entre elas todas as 180 línguas indígenas brasileiras, em diferentes graus de vulnerabilidade – a UCLPM tem se consolidado como espaço de resistência, debate e proposição de políticas públicas.
Ao longo de seu primeiro quadriênio (2018-2022), a Cátedra implementou uma metodologia de financiamento descentralizada, que possibilitou a realização de eventos, pesquisas e publicações mesmo diante das restrições impostas pela pandemia de Covid-19.
Entre os resultados desse período estão:
- Organização de seminários internacionais em países como Rússia, China, Colômbia e Brasil;
- Cooperação científica em formato digital e multilíngue;
- Produção de artigos, dossiês e livros que reforçam o papel do multilinguismo nas agendas globais.
Já em seu segundo quadriênio (2022-2026), a Cátedra tem intensificado sua participação em iniciativas estratégicas, como a Década Internacional das Línguas Indígenas (2022-2032), liderada pela UNESCO. Nesse contexto, a UCLPM coordena a coleta e sistematização de dados da seção brasileira do Atlas UNESCO das Línguas do Mundo e colabora em projetos de revitalização cultural e linguística. Acesse aqui a publicação Atlas UNESCO das línguas do mundo: orientações para a seção de línguas brasileiras, publicação do GT dentro das atividades do segundo quadriênio.
Colaborações e redes
A Cátedra também tem ampliado sua inserção em redes internacionais de pesquisa, como a Rede Mundial de Multilinguismo MAAYA e o Observatório da Diversidade Linguística e Cultural na Internet (OBDILCI), que monitora a presença de línguas no ambiente digital.
No Brasil, destaca-se a cooperação com o Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Política Linguística (IPOL) e com o próprio GT Geopolíticas do Multilinguismo, criado em 2024.
Um exemplo expressivo do trabalho com o IPOL é a política de cooficialização de línguas em municípios brasileiros. Desde a pioneira experiência de São Gabriel da Cachoeira (AM), em 2002, até 2025, já são 59 línguas cooficializadas em 86 municípios e 3 estados da federação, reforçando a importância da diversidade linguística no espaço público, culminando com a realização do II Encontro Nacional dos Municípios Plurilíngues. O II ENMP ocorreu na UFSC, nos dias 1 e 2 de setembro, focando na regulamentação das leis de cooficialização.
Relevância para a cidadania global
O capítulo sublinha que o multilinguismo deve ser entendido não apenas como um campo de estudos, mas como um direito humano e recurso essencial para a cidadania global. Isso implica reconhecer que as línguas minoritárias carregam saberes fundamentais para a sustentabilidade, a justiça social e a paz.
Além disso, a UCLPM tem defendido a proposta ousada de incluir um 18º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável, voltado à produção de conhecimento em todas as línguas, destacando que o acesso equitativo ao saber é um elemento-chave para reduzir desigualdades.
O livro Cidadania Global e Sustentabilidade representa um marco para a divulgação das práticas das Cátedras UNESCO no Brasil. O capítulo sobre a Cátedra em Políticas Linguísticas para o Multilinguismo, evidencia a centralidade das línguas nas discussões sobre direitos humanos, sustentabilidade e justiça social. Ao articular teoria, prática e impacto político, a obra reforça a necessidade de compreender o multilinguismo como um recurso estratégico e transformador. O trabalho da UCLPM e de suas redes parceiras mostra que, diante das pressões do monolinguismo global, apostar na diversidade linguística é apostar em um futuro mais justo, democrático e sustentável.
Referências
ROSA, Carolina Schenatto da; STRECK, Danilo Romeu; CALIMAN, Geraldo; IRELAND, Timothy (orgs.). Cidadania Global e Sustentabilidade: Ações das Cátedras UNESCO do Brasil. Caxias do Sul: Educs, 2025. Disponível em: https://www.ucs.br/educs/livro/cidadania-global-e-sustentabilidade-acoes-das-catedras-unesco-do-brasil-6024/.

Leonardo Alves
Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal de Santa Catarina na linha de pesquisa de Linguagem, Política e Sociedade. Graduado em Relações Internacionais pela Universidade de Santa Cruz do Sul.